Ao tentar definir a República, a primeira ideia que me surgiu foi a de uma aguarela. Quando se pinta uma aguarela é muito difícil remediar uma pincelada mal aplicada. Os ideais da República são aquilo que sustém essas mesmas aguarelas: uma folha em branco. A liberdade, a igualdade e a fraternidade são, sem dúvida, a melhor base de qualquer obra de arte. A igualdade sugere que todos nós somos igualmente livres, tendo os mesmos direitos e os mesmos deveres. A liberdade é obviamente benéfica numa sociedade de direito. Mas será que todos nós a sabemos usar? Muitos tomam a liberdade como certa e não lutam por ela. Muitos sabem exactamente como deturpá-la, atingindo e roubando a liberdade dos outros, seja ela de que espécie for. Há ainda alguns que a vivem e querem continuar a viver, mas não há liberdade se não houver um espírito de sociedade forte e coeso. É aí que reside o ideal de fraternidade.
Não vou descrever a fraternidade porque teria de usar um sem número de lugares-comuns, previsíveis e desnecessários. Apesar de serem tão bem conhecidas por todos, as características da fraternidade, solidariedade ou, simplesmente, do respeito pelo próximo, cada um de nós age como se estivesse só e como se isso lhe bastasse. Poder-me-ão dizer que cada um se baseia no que a sua consciência dita, mas, para isso, respondo que a fasquia está muito baixa. Não podemos confiar apenas em nós, não podemos fazer tudo em benefício próprio! Se assim continuarmos a agir, a aguarela que tanto trabalho deu a pintar, acabará por se esbater e não será por uma única pincelada mal aplicada.
Observemos agora o instrumento que utilizamos para pintar essa aguarela. O pincel é, por excelência, o que nos permite pintar com rigor e precisão. O pincel que pinta a aguarela da República é, então, a democracia. O poder do povo dá maior cor ou intensidade à aguarela. No entanto, essa intensidade e essa cor dependem de muitos factores, mas o poder deveria ser justo, soberano e imperturbável. Porém, é susceptível de ser manipulado de diversas maneiras, a algumas delas, já fomos assistindo ao longo da História, em muitos países e em muitas épocas. O que acompanha essas manipulações é o facto de serem subtilmente óbvias e, apesar disso, as pessoas não quererem notar a sua presença num discurso político, por estarem de acordo com os seus ideais, por medo ou, na pior das hipóteses, por acomodação. Mas a democracia não se manifesta apenas nos dias em que elegemos aqueles que nos representam politicamente, manifesta-se todos os dias. É essa manifestação que faz a cor da aguarela.
Não estou a dizer que todos devemos ter a mesma opinião, os mesmos valores ou os mesmos ideais, muito pelo contrário: devemos estar bem certos deles para podermos respeitar os dos outros. A República é isso: partilharmos as nossas opiniões, tendo elas igual importância para a vida em sociedade, onde todos somos cidadãos iguais. Todos nós deixamos uma marca na República, nem que seja com as decisões que tomamos na nossa vida política.
São essas marcas que fazem da República uma arte. Uma arte em que a cidadania é assumida em sociedade, em que se contribui, fraternalmente, para esse todo representado pela democracia que, assim, está livre de pressões e corrupções. Ao pensar e agir, tendo em conta o bem-estar comum, estamos a dar sentido à palavra comunidade, estamos a dar cor à República pela qual se lutou e continua a lutar. É essa consciência de tudo o que a República representa que devemos conservar, sabendo que todos nós podemos contribuir para que ela resulte e para que seja, realmente, justa, solidária e livre.
Sara Filipe – 12º C
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